Folha de S. Paulo


A dúvida olímpica dos skatistas

Participar da Olimpíada é uma meta que consagra qualquer esporte. Aqueles que estão dentro não querem sair e os que estão fora travam concorrida disputa para serem incluídos no programa dos Jogos.

Por isso um movimento de skatistas na contramão da Olimpíada chama a atenção. Eles colocam em risco a inclusão do skate, uma decisão já em andamento no movimento olímpico, nos Jogos de Tóquio-2020.

Como forma de pressão, lançaram na internet uma surpreendente petição, que visa colher 10 mil assinaturas antes de ser remetida ao COI, contra a inclusão da modalidade na Olimpíada.

Dois outros esportes de ação –surfe e escalada–, mais beisebol/softbol (agora filiados a uma mesma federação) e caratê também integram o pacote, elaborado pelos japoneses e preliminarmente aprovado, quando três candidatos foram eliminados –boliche, squash e wushu. A tendência é que a aprovação seja ratificada pelo COI, em agosto do que vem, no Rio.

Para o programa dos Jogos de 2016 entram o golfe e o rúgbi, totalizando 28 modalidades. Foi uma decisão regulamentar do COI, não dos organizadores brasileiros. Por sua vez, os novos candidatos estão com o caminho livre para serem incorporados ao programa de Tóquio. O COI reformulou seus regulamentos, abrindo as portas para que todas as futuras sedes olímpicas escolham novos esportes.

O skatista brasileiro Bob Burnquist, atleta mais premiado do X-Games, espécie de olimpíada dos esportes radicais, em entrevista a Renan Fernandes, do "Estadão", no último dia 11, expôs seus receios diante da nova situação do skate.

O principal temor é que haja mudanças na modalidade para atender aos interesses da Olimpíada. Burnquist entende o skate como arte. Como tal, a definição de uma disputa é subjetiva, não ganha quem faz mais gols ou registra o melhor tempo. O atleta recebe notas pela sua performance, valendo a estética, o movimento, o equilíbrio e o arrojo, entre outros atributos.

Ginástica, salto ornamental, nado sincronizado e adestramento são exemplos de esportes de nota que já figuram nos Jogos Olímpicos, sempre com decisões polêmicas.

Quanto ao skate, há também adeptos que o adotam como um estilo de vida. Trata-se de um esporte que consiste em executar figuras, espécie de malabarismos, numa prancha de madeira sobre dois eixos e quatro rodinhas, na qual o esportista se equilibra de pé, impulsionando-a e direcionando-a com os próprios pés.

Um dos objetivos da inclusão do skate na Olimpíada é atrair público novo, aquela fatia que foge dos padrões convencionais do mundo esportivo. Outro argumento forte é que as instalações para sua prática, além de baratas, são sempre uma possibilidade de legado para os organizadores do evento.

Ser considerado olímpico coloca qualquer esporte em exposição permanente e, a cada quatro anos, propicia uma chance ímpar de projeção com a realização dos Jogos, uma vitrine completa para atrair fãs, novos atletas, patrocinadores, TV e interessados diversos.

É improvável que algum cartola, até o pior deles, não importa, descarte a chance de seu esporte entrar na Olimpíada. Em qualquer modalidade, um movimento contra a sua própria inclusão nos Jogos também era improvável até pouco tempo atrás. Não é mais. E o desfecho desse caso vira capítulo final de novela.

NUZMAN NA ONU

O presidente do comitê organizador da Olimpíada do Rio, Carlos Arthur Nuzman, discursará na assembléia da ONU, em Nova York, na próxima segunda-feira. Vai pedir uma trégua olímpica, de paz, aos membros daquela organização. É uma missão diplomática que passou a ser realizada pelos organizadores de Olimpíadas desde Barcelona-1992, rememorando manifestação tradicional da Grécia nos Jogos da Antiguidade.


Endereço da página:

Links no texto: