Folha de S. Paulo


Basquete, um Mundial diferente para o Brasil

A seleção masculina de basquete do Brasil –outrora reluzente e ofuscada por fracassos na atualidade– vai tentar a reconquista dos torcedores e dos fãs. Para tanto, estreia no Campeonato Mundial, na Espanha, no sábado (30), carregando uma enorme responsabilidade, bem maior do que nas vezes anteriores: mais do que fazer boas apresentações, precisa convencer de que tem potencial e que figura entre as principais forças do mundo na modalidade.

Por quê? Por causa de um simples e inédito motivo: pagou, e caro, para ter o convite de participante desta Copa. O próprio Brasil e os EUA, ambos por mérito, são os únicos que estiveram presentes em todas as suas 16 edições desde a criação do evento em 1950.

Após ausência em três Olimpíadas e o retorno em Londres-2012, quando terminou com um louvável quinto lugar, a seleção parecia fadada a voltar ao grupo de vanguarda do basquete, mas tudo não passou de ilusão. Na Copa América da Venezuela, classificatória para o Mundial, no ano passado, teve uma campanha catastrófica.

Restou ao Brasil o recurso derradeiro, ou seja, pedir um dos quatro "convites" oferecidos pela Federação Internacional de Basquete, que vinculou cada um deles ao que a entidade denominou de doação, de aproximadamente um milhão de francos suíços (cerca de R$ 2,7 milhões na época).

Uma fortuna. Apesar da situação caótica de sua contabilidade e de sua confusa administração, com balanços apontando rombos e gastos excessivos, superando as injeções de verbas do governo federal, a Confederação Brasileira de Basquete obteve recursos para cobrir o valor exigido pelo "convite".

Em que pese o gasto, a contrapartida é válida neste Mundial. A seleção mantém a referência de participante em todas as Copas e ainda pode sair laureada da competição, sem receios em relação aos Jogos Olímpicos. Indo bem, terá vantagens em todas as frentes, e o sacrifício do investimento será relegado a um segundo plano ou esquecido.

Quanto ao time em si, que já está na Europa testando o nível de preparação em disputas contra rivais internacionais, as expectativas são otimistas. Continua sendo dirigido pelo argentino Rubén Magnano, que comandou a seleção do seu país na campanha do ouro olímpico em Atenas-2004. Ele assumiu a equipe do Brasil em 2010.

Na queda na Copa América, não contou com os principais jogadores brasileiros que atuam na NBA, a poderosa liga profissional da América do Norte. Desta vez os jogadores se colocaram à sua disposição: o ala Leandrinho (do Phoenix), o ala-pivô Varejão (do Cleveland), o pivô Nenê (do Washington) e o pivô Splitter (do San Antonio). E, como não poderia deixar de ser, eles têm se destacado nesta fase de preparação do time.

Completam a seleção: o armador norte-americano Larry Taylor, radicado em Bauru, que se naturalizou, e os brasileiros que atuam na Espanha, os armadores Raul e Huertas, mais o pivô Hettsheimeir e o ala Alex Garcia, ambos de Bauru, os alas flamenguistas Marcelinho e Marcus de Souza e o ala-pivô Giovannoni, de Brasília.

A média de idade dos jogadores é 31 anos e a de altura, 2,01 m. Na primeira fase do Mundial, o Brasil estreia contra a França, e, pela ordem, depois pega Irã, Espanha, Sérvia e Egito.

A equipe brasileira alterou sua postura em relação às últimas décadas, quando empolgava pelo ataque. Agora procura valorizar a defesa, mudança que interfere no ímpeto ofensivo, exigindo um trabalho paciente na preparação de jogadas.

Motivos não faltam para a seleção entrar na quadra em situação mais delicada do que em outras oportunidades. Há pressão também pelo fato de o Brasil ser sede da Olimpíada daqui a dois anos, evento no qual o basquete é uma das atrações, um dos pontos fortes dos Jogos.

No Mundial, apenas o campeão garante vaga no Rio, em 2016. Não se exige tanto do Brasil nesse aspecto no momento, mas a seleção terá de lutar por vaga no Pré-Olímpico das Américas no México, ano que vem. Na Olimpíada existe ainda uma última esperança, a chance de um convite, sem ônus, respaldado pela condição de país anfitrião. Uma situação nada confortável para um basquete que já foi dos mais destacados do mundo.

HIPISMO

As disputas da Olimpíada-2016 e Paraolimpíada já começaram, embora bem distantes das arenas do Rio, ainda em construção. Após a cerimônia de abertura, no sábado, e o início das competições, ontem, foi dada a largada dos Jogos Equestres Mundiais, em Caen, na França. Lá serão distribuídas as 14 primeiras vagas da Olimpíada no Brasil, no hipismo –três equipes para o adestramento, seis equipes para o CCE e cinco equipes para o salto. As competições seguem até 7 de setembro.

O Brasil participa do evento com 35 representantes. O evento conta com 74 países. O salto atraiu o maior número de nações, com 54 países inscritos. O cavaleiro Rodrigo Pessoa, ouro na Olimpíada de Atenas-2004, foi o porta-bandeira da delegação brasileira. Do total de 500 mil ingressos para os Jogos Equestres, 478 mil já tinham sido vendidos antes mesmo da abertura.

HOMENAGEM

O fundista Vanderlei Cordeiro de Lima será homenageado na próxima quinta-feira pela passagem dos dez anos da sua histórica conquista da medalha de bronze na maratona dos Jogos de Atenas. Uma comemoração mais do que justa, levando-se em conta que Vanderlei liderava a prova quando foi empurrado e tirado do percurso pelo ex-padre irlandês Cornelius Horan, que invadiu a pista, burlando a segurança. Ajudado pelo grego Polyvios Kossivas, um cidadão que assistia à prova na calçada, voltou à disputa.

Apesar disso, manteve o bom humor ao final da disputa, desenhando corações no ar e fazendo aviãozinho. Mais importante do que o bronze, em reconhecimento, recebeu do COI a medalha Pierre de Coubertin, que não tem relação com o desempenho técnico, mas com as qualidades morais e éticas do competidor em situações difíceis ou inusitadas, em que demonstre esportividade e alto espírito olímpico. A homenagem será às 10h, na sede da BM&F, na praça Antônio Prado 48, 3º andar.


Endereço da página: