Folha de S. Paulo


A Olimpíada no rastro da Copa

As organizações brasileiras responsáveis pelos grandes eventos esportivos internacionais –comitês da Copa e Rio 2016–, que foram alvos de implacável onda de pedradas nos últimos tempos, por causa de falhas em suas ações, parecem navegar em céu de brigadeiro, sem turbulências. Pelo menos, no momento, essa é a imagem que deixam transparecer, a de que deram a volta por cima, driblaram os obstáculos.

A Copa do Mundo apresenta estádios abarrotados de torcedores de todos os cantos do planeta e futebol repleto de emoção. Muita festa e confraternização dentro e fora das praças esportivas. A classificação da seleção brasileira para as oitavas de final empolga os torcedores. Na mão inversa, as manifestações populares, geradas por reivindicações sociais, não mostram força e impacto como em junho do ano passado.

Sede também da Olimpíada, daqui a dois anos, o Brasil busca saídas para se recuperar de tropeços, em especial no seu canteiro de obras. No Rio, o prefeito da cidade, Eduardo Paes, e o governador do estado, Luiz Fernando de Souza, o Pezão, deram um passo importante para superar impasses que resultaram na crise recente e na intervenção velada do Comitê Olímpico Internacional nos preparativos para a Olimpíada. Assinaram carta de garantia que permite ao COI a liberação de US$ 700 milhões para os Jogos.

É a parte que cabe ao Rio de contratos de TV firmados pelo comitê internacional. A NBCUniversal, dos EUA, ganhou os direitos sobre quatro Jogos Olímpicos, em 2011, em um negócio avaliado em cerca de US$ 4,4 bilhões. Além do Rio, integram o pacote os Jogos de Inverno de Sochi (já realizados) e PyeongChan-2018, na Coreia do Sul, mais a Olimpíada de Tóquio-2020.

Com esses recursos nas mãos, o prefeito Paes assume de fato as operações olímpicas. Assim, na etapa em andamento, os preparativos para os Jogos devem caminhar com as próprias pernas, sem depender de decisões de última hora do governo federal. Este, por sua vez, tem compromissos com obras de infraestrutura, o que não é pouco.

Copa e Olimpíada são eventos distintos. Enquanto a Copa está sendo realizada em doze cidades, envolvendo cerca de 700 jogadores, a Olimpíada vai se concentrar no Rio, com aproximadamente 10.500 atletas de 28 modalidades. Destas, apenas o futebol terá partidas fora da sede.

Apesar dos atropelos de última hora na organização, especialmente por conta dos atrasos na conclusão das obras dos estádios, a Copa funciona como uma espécie de teste para a Olimpíada em vários setores –construção dos palcos de disputas, transporte, segurança e turismo, entre outras.

A interpretação decorrente disso sinaliza que essa prática, aliada a uma dose de sabedoria e bom-senso, podem resultar em bons frutos. É isso que se espera das áreas de governo e do Comitê Rio 2016, responsáveis pela organização dos Jogos, quando o planeta volta seus olhos novamente para o Brasil.

Ontem, 23 de junho, o Dia Olímpico, foi lembrado em inúmeros países. Uma data especial, que passou sem alarde por aqui, mas que merecia comemoração, aproveitando o alívio, mesmo que temporário, proporcionado pelo dindim do COI. E ainda por cima animada pela vitória sobre Camarões, é claro!


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