Folha de S. Paulo


O consumo de água em áreas urbanas (parte 2)

No Brasil, o consumo global de água está distribuído, mais ou menos, da seguinte forma: 70% na agricultura, 20% na indústria e 10% no consumo doméstico.

Especificamente nas áreas urbanas, as residências representam um percentual elevado em todo o consumo (cerca de 60%) e, portanto, a racionalização do uso da água é muito importante para equacionar a distribuição do bem nas cidades.

Além disso, existe a clara tendência de crescimento do consumo de água em núcleos urbanos, em função do aumento da demanda e da ampliação dos domicílios atendidos. Isso é extremamente relevante para a melhoria das condições de vida e saúde da população, mas evidencia a importância de melhorar o gerenciamento e a operação do sistema.

No consumo doméstico, apenas 47% da água deve ser potável, pois é utilizada para higiene pessoal, preparo de alimentos e consumo humano. Os 53% restantes são para usos que não requerem, obrigatoriamente, água potável, como descarga de detritos sanitários, limpeza e irrigação.

Portanto, destinar água de reúso e das chuvas para usos menos nobres passa a ser imperativo num momento em que se pretende reorganizar as formas de consumo e racionalizar os modos de distribuição.

A reeducação nos hábitos também pode ser uma forte aliada na empreitada de racionalizar a utilização deste precioso recurso natural.

Um banho de ducha de 15 minutos, por exemplo, consome 135 litros de água. Reduzindo o tempo para 5 minutos, o gasto passa a ser de 45 litros. Enquanto uma válvula de descarga pode consumir de 10 a 14 litros por disparo, em uma caixa acoplada com acionamento seletivo o consumo chega a cair para algo entre 3 e 6 litros. A moderação do uso da água no dia a dia das residências pode reduzir em pelo menos 30% o seu consumo.

As tarifas cobradas pela utilização doméstica da água têm sido indutoras à diminuição do consumo, embora com consequências econômicas importantes. Países como Dinamarca e Bélgica chegam a cobrar cerca de US$ 7 por metro cúbico de água para uso residencial, enquanto em São Paulo a tarifa é de menos de US$ 1 por metro cúbico.

Outro "consumo" significativo nas áreas urbanas é o oriundo da perda de água durante seu transporte pelas tubulações, desde as estações de tratamento até os consumidores. A média mundial normalmente perdida, embora bastante elevada, é de aproximadamente 20% da produção de água tratada.

Sistemas antigos e deteriorados podem apresentar perdas de até 50% do volume transportado. Essas perdas podem ser atribuídas a vários fatores, que incluem vazamentos, erros de leitura dos medidores e até mesmo roubo de água. O maior de todos, sem dúvida, são os vazamentos, que causam enormes prejuízos, não só com relação aos custos com tratamento e distribuição, mas, principalmente, com os riscos à saúde. É alta a probabilidade de contaminação da rede pelos locais de vazamento quando diminuída a pressão na tubulação.

Portanto, investimentos constantes em manutenção e aperfeiçoamento do sistema são necessários e fundamentais para o funcionamento minimamente eficiente do sistema de produção e distribuição de água potável.

É urgente a mudança radical nos modelos de planejamento, armazenamento, tratamento, distribuição e consumo de água. Governo e sociedade devem se unir para encontrar as melhores formas de atender a esses objetivos, sob o risco de sofrermos, em curto espaço de tempo, as graves consequências que a falta de água gera na vida das pessoas e das cidades.


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