Folha de S. Paulo


O consumo de água em áreas urbanas (parte 1)

Estamos atravessando na região Sudeste do país o que talvez seja uma das maiores crises hídricas em áreas urbanas de nossa história.

O consumo de água não tem sido uma das maiores preocupações no Brasil. Talvez porque o país tenha um privilegiado potencial hídrico. Temos, aqui, os maiores aquíferos subterrâneos do mundo. O maior deles encontra-se distribuído pelos Estados do Pará, Amapá e Amazonas. Trata-se do aquífero Alter Chão, que acumula um volume de 86 mil quilômetros cúbicos de água doce.

Esse volume é equivalente a 86 quatrilhões de litros de água. Tomando por exemplo o consumo diário de 150 litros de água por pessoa, e considerando a população brasileira de pouco mais de 200 milhões de habitantes, esse aquífero seria capaz de abastecer o Brasil por 7.000 anos. E há também no país o aquífero Guarani, o segundo maior do mundo, cujo volume de água corresponde à metade do Alter Chão.

Mas do que adianta tanta água se o seu transporte para as áreas urbanas, onde necessitamos desse recurso, não é tão simples? Novos modelos de armazenamento, distribuição e, principalmente, consumo têm de ser planejados.

O aumento dos níveis de urbanização, o crescimento da população e as mudanças no estilo de vida foram aspectos que governaram o uso da água nas áreas urbanas durante o último século. Além disso, sabemos que seu uso depende do clima, da eficiência dos sistemas públicos de abastecimento, dos padrões e hábitos de consumo e de mudanças tecnológicas que possam produzir efeitos sobre a quantidade de água utilizada.

Todos esses fatores agregados, ainda, à forma como a população está disposta no tecido urbano e aos modelos de administração dos sistemas de distribuição têm influência direta nos níveis e padrões de consumo.

Os níveis de consumo de água no mundo podem ser divididos, conforme o estilo de vida da população, entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Nas nações mais ricas, 59% são destinados ao uso industrial, 30% vão para a agricultura e 11% são para o consumo doméstico. Nos países com menos recursos, a agricultura consome 82% do total, enquanto 10% são utilizados pelas indústrias e apenas 8% para uso doméstico. Fica claro, portanto, que o consumo de água de um país aumenta na proporção direta do incremento dos seus níveis de produção.

Analisando especificamente as áreas urbanizadas, estudos desenvolvidos na Califórnia mostraram que 66% do consumo vão para usos residenciais, 22% para o comércio, 5% para indústria, 6% para irrigação de áreas verdes e o restante para outros usos. Portanto, no que diz respeito às áreas urbanas, a parcimônia no uso da água nas residências tem papel fundamental no gerenciamento eficiente do bem.

O consumo de água por pessoa/dia, nas áreas urbanas, varia também de país para país. Nos EUA, o maior do mundo, são aproximadamente 500 litros por habitante por dia; na Espanha, o maior consumo da Europa, quase 300 litros por pessoa, e em países da África, como Uganda, Etiópia e Ruanda, chega-se a menos de 50 litros por dia por pessoa.

No Brasil, o consumo médio é de 159 litros por dia. A região Sudeste é a que tem maior consumo diário, com 189 litros por pessoa. Porém, o Rio de Janeiro apresenta o maior consumo do país, com 263 litros de água por habitante/dia, enquanto o Nordeste consome cerca de 100 litros por pessoa diariamente.

Gerenciar o consumo eficientemente e superar de forma competente a crise que atravessamos são fundamentais. Algumas dessas alternativas serão analisadas na segunda parte deste artigo, na próxima semana.


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