Folha de S. Paulo


Perda de alguém querido aumenta risco de ataque cardíaco e derrame

Mike Blake/Reuters
Debbie Reynolds com a filha, Carrie Fisher, em janeiro de 2015
Debbie Reynolds com a filha, Carrie Fisher, em janeiro de 2015

Causou surpresa e comoção a morte da atriz americana Debbie Reynolds, 84, um dia depois da de sua filha, a também atriz Carrie Fisher, 60.

Quinze minutos antes de sofrer um severo AVC (Acidente Vascular Cerebral) que a levaria à morte logo depois, Debbie disse ao filho Todd Fischer que "estava muito, muito triste por ter perdido Carrie e que gostaria de estar com ela novamente".

Para Tood, a morte da irmã foi "demais" para a mãe. De certa forma, ele está certo. Cada vez mais a ciência tem mostrado que o luto de uma pessoa amada pode, literalmente, "partir" o coração de quem fica.

Um dos maiores estudos já feitos nessa área analisou dados de 2.000 sobreviventes de ataques cardíacos e revelou que os riscos de um infarto, por exemplo, pode aumentar até 21 vezes nas primeiras 24 horas após a perda de um ente querido.

Os resultados, publicados na revista científica "Circulation", mostraram que o risco de ataque cardíaco pode permanecer oito vezes acima do normal durante a primeira semana após a morte de alguém próximo, caindo lentamente, mas ainda elevado durante ao menos um mês.

Pesquisadores da Harvard Medical School revisaram o prontuário de atendimento e entrevistaram 1.985 pacientes do hospital em Boston. Os pacientes responderam perguntas sobre as circunstâncias de seus ataques cardíacos, se haviam perdido alguém importante em suas vidas no ano anterior.

Estudos anteriores já haviam mostrado que cônjuges de luto têm mais risco a longo prazo de morrer com doença cardíaca e acidente vascular cerebral –o que leva ao fenômeno conhecido como "síndrome do coração partido".

Desconheço pesquisas que envolvam especificamente casos de mães e filhos, mas imagino que a mesma associação possa ser feita. Conheço ao menos três casos de mães que morreram logo após a perda de filhos e de uma filha que morreu um mês depois de perder a mãe. Todos os casos envolveram ataques cardíacos ou AVC.

O estresse psicológico causado pela dor intensa do luto aumenta a frequência cardíaca, a pressão arterial e a coagulação do sangue, o que, no curto prazo, também pode aumentar as chances de um ataque cardíaco ou de um AVC.

A perda de sono e apetite também pode deprimir o sistema imunológico, o que agrava condições médicas existentes. A tensão emocional faz ainda com que os enlutados tenham dificuldades para retomar suas próprias vidas enquanto outros negligenciam sua saúde e sua dieta por causa da dor da perda.

Por isso, os cardiologistas têm alertado as pessoas que passaram pelo trauma do luto (ou os parentes mais próximos) que reconheçam que estão em um período de aumento do risco cardíaco nos dias e semanas depois que alguém próximo morreu.

O apoio de amigos e familiares é essencial na hora de superar o luto. Há quase seis meses elaborando a perda da minha mãe, posso dizer que essa rede de proteção é fundamental neste momento de profundo desamparo e de restruturação da vida sem a pessoa que perdemos.


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