Folha de S. Paulo


Mundo Econômico

PANORAMA MUNDO

Na sexta-feira (29), o anúncio da redução do PIB (Produto Interno Bruto) trimestral americano em 0,7% acelerou a queda dos índices acionários Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq, que fecharam o dia com variações negativas de 0,64%, 0,63% e 0,55%, respectivamente.

A queda também se deve às incertezas no mercado, como a previsão de quando o Federal Reserve (banco central americano) irá elevar a sua taxa de juros básica, que fizeram as empresas americanas de alto rendimento emitir apenas US$ 30,3 bilhões em títulos no mês de maio, ante os US$ 49 bilhões do mês anterior. Ou seja, as empresas estão se financiando menos e, consequentemente, investindo menos.

A cautela das empresas se justifica também pelo resultado do índice de gasto real do consumidor que, com 1,8%, está 0,2% abaixo do valor previsto. Além disso, no mês de maio, os mercados globais de títulos cambalearam, elevando o rendimento de papéis de 10 anos do Tesouro americano, que serve como taxa base para hipotecas e dívidas corporativas.

Isso eleva o custo de financiamento das empresas e reduz o poder de compra dos consumidores com hipoteca, explicando a variação no gasto real do consumidor e no investimento das empresas.

Outra fonte de incerteza é se a Grécia dará ou não um "default" (calote) na sua dívida com a União Europeia. Conforme nos aproximamos da data limite –5 de junho– sem um acordo estabelecido, aumentam as probabilidades de calote, que poderia elevar o risco associado aos títulos de outros países da zona do euro considerados frágeis.

Para compensar o incremento no risco, os títulos também teriam retornos maiores, o que pode ser financeiramente inviável para alguns desses países, 'contagiando-os' com a crise financeira grega.

Essas preocupações reduziram o montante de títulos emitidos pelas empresas europeias para € 44,7 bilhões em maio, ante os € 74 bilhões de abril. Como alternativa para o investimento surgiu o título de 10 anos alemão, cujo retorno cresceu no último mês.

Com isso as Bolsas alemã (DAX), francesa (CAC 40) e inglesa (FTSE 100) caíram 2,26%, 2,53% e 0,80%, respectivamente, na sexta-feira, puxando a Bolsa europeia (EURO STOXX 50) 2,19% para baixo no mesmo dia.

Essa semana o BCE (Banco Central Europeu) se reunirá para discutir a taxa de juros. Com o aumento da inflação anual da zona do euro para 0,2% em maio, as políticas do BCE estão começando a mostrar efeito em relação a sua meta de inflação.

No Japão, a meta de inflação de 2% ao ano perseguida pelo seu banco central ficou longe de ser alcançada, chegando apenas a 0,2%. Além disso, a tentativa de melhorar as exportações através da desvalorização da moeda não foi o suficiente para gerar uma balança comercial positiva, que ficou deficitária em 53 bilhões de ienes.

Mesmo assim, o índice acionário japonês Nikkei fechou a semana em alta, devido ao bom desempenho das empresas exportadoras. A queda no gasto do consumidor de abril para maio de 5,5%, porém, preocupa.

Na última semana, apenas no dia 28, a Bolsa chinesa de Shanghai perdeu 6,5% do seu valor. Isso reflete a preocupação com uma possível bolha no mercado de ações chinês, em que há duas semanas a empresa de energia solar Hanergy perdeu 45% do seu valor (antes de US$37 bilhões) em apenas 1 dia.

A Bolsa de Shanghai mais do que dobrou o seu valor desde agosto do ano passado até abril desse ano, gerando incertezas sobre a qualidade do "valuation" das empresas listadas no índice. Segundo especialistas, porém, a China irá promover o crescimento através de uma política monetária expansionista, podendo alcançar os 7% de crescimento esse ano.

Nos próximos dias serão divulgados, a decisão da taxa de juros e o PMI (índice de gerentes de compras, na sigla em inglês) de Serviços de maio do Reino Unido, a decisão da taxa de juros da zona do euro e o IPC (índice de preços ao consumidor) anual da China.

PANORAMA BRASIL

O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou a última semana com queda de 2,97%, acumulando uma perda de 6,17% no mês.

Parte desse desempenho pode ser explicado pela alta do dólar ante o real, que atingiu pela primeira vez em dois meses um valor acima de R$ 3,20, chegando a R$ 3,21 na segunda-feira (1º).

A alta do dólar tem sido em parte consequência do programa do Banco Central de rolar 80% dos contratos de swaps (operação que equivale à venda futura de dólares) vencendo em junho e também em julho. Isso sinaliza que o Banco Central prestará menos suporte ao câmbio.

O dólar mais caro, por sua vez, afeta a taxa de juros na medida em que encarece importações, elevando a inflação. Por isso analistas do mercado financeiro estimam uma subida da taxa de juros para 14% até o final do ano.

Apesar da retração da economia brasileira de 0,2% no primeiro trimestre, a expectativa era de um desempenho pior. Com isso, o Banco Central tem maior probabilidade de elevar a taxa de juros básica em 0,5 ponto percentual na sua próxima reunião na quarta-feira (3).

Nelson Barbosa enxerga na desvalorização do real uma oportunidade de investimento em infraestrutura, na medida em que os ativos brasileiros se tornaram mais atrativos e as taxas de juros internacionais estão baixas (relativamente ao Brasil).

Porém, mesmo com a sua competitividade aumentando com a desvalorização, a indústria brasileira vê o seu índice de Gerentes de Compras cair para 45,9 (abaixo de 50 o índice representa uma retração do setor) e as encomendas externas recuarem.

Mesmo com queda nas exportações, a balança comercial brasileira ficou positiva em maio, já que a desvalorização do real diminui as importações em maior proporção do que as exportações caíram. Com isso, o resultado foi um superavit de US$ 2,761 bilhões.

Nos próximos dias serão divulgados a decisão da taxa de juros, o fluxo cambial estrangeiro e o IGP-DI (índice geral de preços - disponibilidade interna) mensal de maio do Brasil.

Post em parceria com Álex Mondl von Metzen, graduando em economia pela Fundação Getulio Vargas e consultor pela Consultoria Junior de Economia (CJE-FGV)


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