Folha de S. Paulo


Preço também é placebo?

Em 1955, o cardiologista americano Leonard Cobb resolveu testar suas suspeitas a respeito da cirurgia de ponte mamária, a técnica padrão da época para resolver dores no peito. Ele não estava seguro da eficácia da cirurgia e resolveu lidar com sua dúvida de uma maneira arriscada: fazendo cirurgias placebo.

No seu teste, a cirurgia foi realizada em apenas metade dos pacientes. Na outra metade, foi feita apenas uma incisão no peito, para deixar a cicatriz. Os resultados foram impressionantes: os dois grupos relataram alívio imediato da dor por três meses. Depois deste período, a dor voltava.

A conclusão foi clara: o placebo funcionava da mesma forma que a técnica completa: mal. Nem a primeira nem a segunda davam resultados de longo prazo.

Os placebos são uma forma de usar nossas expectativas para afetar as nossas experiências, tanto emocionais quanto físicas, afirma Dan Ariely em "Previsivelmente Irracional". E ele lembra: "até pouco tempo atrás, quase todos os medicamentos eram placebos. Olho de sapo, asa de morcego, pulmões secos de raposa, mercúrio, água mineral, cocaína, corrente elétrica: eram todos vistos como curas adequadas para diversas doenças".

Segundo o autor, o placebo funciona através do poder da sugestão. "eles funcionam porque as pessoas acreditam neles. Você vê o seu médico e se sente melhor. Toma um comprimido e se sente melhor. E se o seu médico é um especialista renomado, ou se a sua receita é para o novo remédio milagroso, você se sente ainda melhor".

No entanto, se um reforço na expectativa pode afetar o resultado, quanto maior o preço, maior a nossa crença de que a qualidade do remédio é maior. E quem vai virar "mão fechada" na hora de cuidar da saúde?

Em um estudo conduzido no MIT, pesquisadores ofereceram um novo analgésico para quem se submetesse a duas séries de choques: um sem o remédio e outro 15 minutos depois de ele fazer efeito. Durante o teste, eles informavam aos participantes que cada comprimido do novo analgésico custava US$ 2,50. A maioria dos participantes relatou ter sofrido menos dor com os choques depois de tomar o remédio - que, na realidade, era um comprimido de vitamina C.

Quando o remédio "entrou em promoção" e seu custo foi reduzido a US$ 0,10, somente a metade dos participantes sentiu menos dor na segunda rodada de choques.

Ou seja: não são só remédios que podem servir de placebos - seu preço também pode ser um.

Antes de você achar que vai acabar pagando sempre mais por determinados remédios, saiba que a situação tem uma solução simples. O placebo só funciona quando não sabemos da sua existência. Na hora de comprar o próximo remédio, vale questionar se o remédio mais caro vai deixar você "mais saudável" do que a versão genérica ou mais barata - e se isso não pode estar ligado ao preço dos dois medicamentos.

Post em parceria com Carolina Ruhman Sandler, jornalista, fundadora do site Finanças Femininas e coautora do livro "Finanças femininas - Como organizar suas contas, aprender a investir e realizar seus sonhos" (Saraiva)


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