Folha de S. Paulo


Sem crescimento não há salvação

A situação em que o país vive hoje me fez lembrar de uma análise de John Kenneth Galbraith (1908-2006). Ao descrever a Grande Depressão dos anos 1930, esse celebrado pensador norte-americano observa que muitos economistas da época, como Lionel Robbins na Inglaterra e Joseph Schumpeter nos Estados Unidos, concordavam em que a depressão tinha uma função necessária, terapêutica, e que, portanto, era algo que se devia aceitar com resignação e paciência.

O resultado prático desse pensamento era a adoção de políticas conservadoras, como aumento de impostos, corte de salários e austeridade generalizada. Sabemos hoje que o mundo não se livrou da Grande Depressão com medidas dessa natureza, e sim com investimento público, crédito e estímulo aos negócios.

O atual ajuste econômico brasileiro deveria se distanciar do conservadorismo radical, fórmula usada na Europa para enfrentar a crise de 2008 e que provocou recessão em vários países, especialmente nos menos desenvolvidos, com aumento brutal do desemprego no continente.

Durante todos esses anos, as autoridades europeias impuseram uma política de forte austeridade e retardaram a redução das taxas de juros, só recentemente ajustadas para níveis semelhantes aos dos Estados Unidos.

Nos EUA, por outro lado, o enfrentamento foi diferente. As autoridades monetárias cortaram rapidamente os juros para um nível próximo de zero e irrigaram a economia com recursos multibilionários. Ben Bernanke, que presidia o banco central americano, chegou a dizer que jogaria dinheiro de helicóptero sobre Wall Street se necessário fosse.

Hoje, os EUA já colhem os resultados, com expansão econômica anualizada de 3,7%. Não há salvação fora do crescimento econômico, especialmente para países emergentes.

A recessão e o desemprego que enfrentamos neste momento no Brasil
tornam as famílias infelizes e espalham um profundo pessimismo em toda a sociedade. A esse fator se junta a crise política, desenhando um quadro assustador.

A medida mais importante e urgente a ser tomada neste momento seria uma reforma fiscal, não para elevar impostos, mas para reduzir a carga tributária, que hoje tira a competitividade da economia brasileira. Nestes tumultuados meses de 2015, ficou bastante claro que a fórmula da elevação de impostos com corte de investimento público não funciona. Ela deprime ainda mais a economia, reduz a receita pública e inviabiliza a tentativa de equilibrar as contas do governo.

Cortes de gastos públicos são obviamente necessários, mas não podem atingir investimentos, e sim as despesas correntes. E a taxa básica de juros não tem nenhuma razão para permanecer no nível atual, de 14,25% ao ano, uma aberração.

Com redução da carga fiscal e com o câmbio desvalorizado, a indústria poderia voltar a respirar, prospectar mercados externos e começar a sair de seu longo período de hibernação. Com juros menores e oferta de crédito, o consumo interno também poderia iniciar uma recuperação.

Não se pode pensar em deixar para mais tarde a discussão da agenda do crescimento, atitude que indica um inaceitável conformismo com a recessão. Galbraith escreveu que muitos economistas dos anos 1930 ingenuamente acreditavam que a depressão era salutar porque "expelia venenos que haviam se acumulado no sistema econômico".


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