SÃO PAULO - Andy ia pela estrada com seu Jeep Cherokee quando, do nada, os freios travaram e o motor foi desligado por alguém a quilômetros dali. O vídeo do ataque virtual, feito para uma reportagem da revista "Wired", fez o grupo Fiat Chrysler recolher 1,4 milhão de carros.
Isso já faz 15 dias. Na semana que vem, só se falará dos robôs-soldados em Buenos Aires. O físico Stephen Hawking, o dono da Tesla (montadora de carros elétricos), Elon Musk, e mais de mil especialistas em inteligência artificial lançarão, durante conferência, manifesto pedindo uma legislação global que proíba o uso militar de autômatos assassinos.
O que une os dois momentos não é o "perigo da tecnologia", mas o fato de que a solução para possíveis ameaças são instituições fortes.
No caso dos Jeeps, foi a mídia organizada que desencadeou a ação da montadora (alertas sobre a vulnerabilidade dos carros conectados já haviam sido feitos de forma isolada).
Na questão dos soldados autômatos, a resposta que se pede é uma regulamentação feita e imposta por organismos internacionais.
É uma espécie de dialética da tecnologia: a cada avanço na direção de objetos capazes de substituir tarefas humanas, maior a pressão por inteligência e ação políticas –capacidades, mais que humanas, sociais.
No estágio em que está hoje, a tecnologia capta, processa e analisa milhões de dados e toma decisões a partir disso, mas está longe de substituir uma pessoa. Como exemplifica –no melhor humor britânico– o colunista John Gapper, do "Financial Times", um robô que escaneie informações para identificar uma mulher mas não seja capaz de entender em que estado de humor ela está não serve para muita coisa.
*
Para alegria dos leitores de Hélio Schwartsman, termina aqui este meu período como colunista convidada.
Obrigada pela companhia.