Folha de S. Paulo


Que causa devemos apoiar?

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#sefi61 - Serafina Ensaio 5 anos - Seleção Brasileira - Retro - Os originais - Cena do filme
Cena do filme "Terra em Transe" (1967), de Glauber Rocha

RIO DE JANEIRO - "Terra em Transe", de Glauber Rocha, fez cinquentinha. Quando exibido pela primeira fez, em maio de 1967, foi atacado por críticos de esquerda, que o classificaram de confuso e, já naquela época, de politicamente incorreto, por misturar militantes, militares, intelectuais, políticos e empresários envolvidos em delírio na disputa pelo poder.

Ficou não só como marco do Cinema Novo —"O filme é uma merda, mas o diretor é genial", na frase ora atribuída a Jaguar, ora a Paulo Francis— mas sobretudo como maior exemplar do cinema político brasileiro.
Carlos Heitor Cony gosta de lembrar o dia em que conheceu um tal de Gusmão, cujo grande feito na vida foi ter sido figurante em "Terra em Transe". Ele aparece na famosa cena do terraço no parque Lage, ao lado de José Lewgoy, Jardel Filho, Glauce Rocha, Jofre Soares, Paulo César Pereio, Maurício do Valle, Zózimo Bulbul, todos gritando alguma coisa. Glauber explicou que a função de Gusmão seria a do "apoio das massas". Para Cony, o significado da confusão é que não "entendemos o que estamos fazendo no mundo. Muito menos que causa devemos apoiar".

Corta para 2017. Em 7 de setembro, Dia da Independência, estreia a superprodução "Polícia Federal: A Lei é para Todos", exemplo do cinema político do Brasil atual. O tema, lógico, é a Operação Lava Jato. No elenco, estão o galã Marcelo Serrado como o juiz Sergio Moro e Ary Fontoura vivendo o ex-presidente Lula. Os produtores planejam duas sequências (não se sabe se, nelas, o nome do vilão passará a ser Gilmar Mendes) e apostam num público específico: os manifestantes que, vestidos com camisas da seleção brasileira, saíram às ruas exigindo mudanças e o fim da corrupção.

Aí está um problema: esse pessoal hoje, sob Michel Temer, não sai de casa nem para ir até a esquina. Irão ao cinema?


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