RIO DE JANEIRO - Em meio a tanta notícia ruim que assola a cidade, aquela, num canto de página, parecia uma nota humorística de Stanislaw Ponte Preta ou uma ideia para futuro cartum do Jaguar. O repórter Elcio Braga, do "Globo", descobriu a existência de um bem-te-vi antitabagista que bate ponto no botequim da dona Diva, nos altos da ladeira Tavares Bastos, no Catete.
Com voos inesperados e rasantes, o pássaro tem a especialidade de arrancar cigarros das mãos dos que não ligam para o aviso na parede: é proibido fumar. Em seguida, os destrói a bicadas, com fúria de ex-fumante, sem se importar se continuam acesos ou não. A dona do bar contou que o passarinho prefere atuar com maior decisão na hora do almoço, às sextas-feiras, dia de feijoada. O problema é que o bem-te-vi anda sumido. Periga ter sido atacado por um gavião, espécie que também dá muito na região da Tavares Bastos.
Em seu livro "Fumaça Pura" (Bertrand Brasil), Guillermo Cabrera Infante relembra que, em 1492, Rodrigo de Jerez, um marinheiro da nau capitânia de Cristóvão Colombo, foi o primeiro europeu que viu um índio aspirando uma estranha folha e soltando fumaça igual chaminé. Colombo, que só pensava no ouro, não se importou com a descoberta. Jerez gostou da brincadeira, levou para a Espanha, secretamente, uma quantidade de tabaco e costumava tragar escondido, trancado no porão. Sua mulher —que devia amá-lo acima de todas as coisas— o descobriu fumando pelos olhos, orelhas, boca e nariz e, achando que ele estava possuído pelo diabo, o denunciou para a Inquisição.
O homem quase foi queimado vivo como um charuto. Começou aí, segundo Cabrera Infante, a perseguição contra o fumo. A qual, nos dias de hoje, atingiu tal eficiência e sofisticação que nela são utilizados até os bem-te-vis.
Além de malvado, o gavião deve ser um fumante odioso.