Folha de S. Paulo


Máquinas se atrapalham com tarefas que os humanos acham simples

Em filmes de ficção científica como "Ex Machina" e "Chappie", robôs se movem com uma destreza impressionante –e muitas vezes malévola. Eles parecem confirmar os piores temores de tecnólogos e cientistas proeminentes, como Elon Musk, Stephen Hawking e Bill Gates, sobre o possível surgimento de máquinas autoconscientes dispostas a fazerem o mal à espécie humana.

Hawking disse à BBC que "o desenvolvimento da inteligência artificial completa pode significar o fim da raça humana"

Calma lá. A Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (Darpa, na sigla em inglês), um braço do Departamento de Defesa dos EUA, promoveu recentemente o Desafio de Robótica em Pomona (Califórnia), com um prêmio de US$ 2 milhões para o robô que apresentasse o melhor desempenho em uma série de tarefas.

Uma prévia dos trabalhos apresentados sugere que, por enquanto, não há motivos para se preocupar com o aparecimento de um Exterminador. Na competição, os robôs têm uma hora para completar oito tarefas que um ser humano levaria menos de dez minutos para realizar, como abrir uma porta e entrar em um quarto.

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Cena do filme
Cena do filme "Ex Machina"; ameaça robótica está longe de ser realidade

"Nos últimos cinco anos, houve um progresso extraordinário na percepção das máquinas", disse Gill Pratt, gerente do programa da Darpa encarregado do Desafio Robotics. Avanços em hardware e software de reconhecimento de padrões propiciaram aos computadores melhoras em termos de visão computadorizada e compreensão da fala, segundo ele.

Por outro lado, disse Pratt, houve escasso progresso na "cognição", ou seja, nos processos necessários para uma verdadeira autonomia. "Sem uma pessoa, essas máquinas não conseguem fazer praticamente nada", disse Pratt.

As complicações na criação de robôs móveis capazes de imitar as capacidades humanas estão levando os especialistas em mecatrônica do mundo todo a repensarem seus objetivos. Em vez de tentar construir robôs autônomos, muitos pesquisadores começaram a pensar no desenvolvimento de conjuntos formados por seres humanos e robôs.

Ken Goldberg, especialista em robôs da Universidade da Califórnia, em Berkeley, defendeu que o mundo da computação deveria abandonar sua obsessão com a singularidade –a noção de que computadores irão superar seus criadores humanos. Ele propõe um conceito que chama de "multiplicidade", com diversos grupos de humanos e máquinas resolvendo problemas colaborativamente.

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Filmes como
Filmes como "O Exterminador do Futuro" imaginam robôs do futuro

Há muito tempo, os pesquisadores que estudam a inteligência artificial observaram que tarefas simples para humanos são grandes desafios para as máquinas.

"A ideia intuitiva é que quanto mais dinheiro você gasta em um robô, mais autonomia você será capaz de dar a ele", disse Rodney Brooks, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e cocriador das empresas iRobot e Rethink Robotics. "A verdade é que o contrário é verdadeiro: quanto mais barato o robô, mais autonomia ele tem."

O Roomba, da iRobot, por exemplo, é autônomo, mas a tarefa que ele executa –aspirar sujeira– é extremamente simples. Já o Packbot, que foi projetado para desarmar bombas, é mais caro e deve ser controlado por pessoas à distância.

O primeiro desafio promovido pela Darpa, em 2004, envolvendo veículos robóticos contribuiu para despertar mais interesse pela inteligência artificial. No desafio de 2005, um prêmio de US$ 2 milhões foi entregue a um grupo de pesquisadores da Universidade de Stanford, na Califórnia, cujo veículo derrotou outro em uma corrida acirrada.

O concurso motivou o Google a iniciar um projeto de carro autoguiado. "Tínhamos uma tarefa relativamente fácil", disse Sebastian Thrun, que liderou a equipe de Stanford em 2005 e mais tarde iniciou o projeto de veículo autoguiado do Google. "Hoje eles estão fazendo as coisas difíceis."

Sua visão sobre a relação entre seres humanos e robôs foi moldada pelos concursos. "Sou um adepto fervoroso da ideia de que a tecnologia avança complementando as pessoas, em vez de substituí-las."


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