Folha de S. Paulo


Mexicanos sofrem com onda de 'falso sequestro'

Assustados com a violência do narcotráfico, os mexicanos agora se veem às voltas com outro tipo de ameaça - os falsos sequestros. Embora não use violência física, o crime apavora principalmente pais de família. As mais novas vítimas são os integrantes de uma banda espanhola que se apresentava no país.

Os quatro integrantes do grupo indie Delorean, do País Basco, receberam um telefonema no hotel onde se hospedavam na Cidade do México.

Segundo informações da imprensa, a pessoa que ligou dizia ser da polícia e recomendou que os músicos saíssem de onde estavam e fossem para outro hotel, pois corriam o risco de ficar em meio a um tiroteio.

Quando eles já estavam instalados no outro hotel, receberam outro telefonema na qual foram informados que estavam sendo sequestrados.

Enquanto tudo isto ocorria, alguém ligava para a família dos músicos e exigia um resgate de, inicialmente, 300 mil euros (mais de R$ 895 mil). Finalmente, o preço do resgate foi fechado em 10 mil euros (quase R$ 30 mil). Todas as ameaças aos músicos e negociações para extorquir as famílias foram feitas por telefones celulares.

A primeira denúncia do golpe foi feita na Espanha. Depois de ser alertada, a polícia mexicana, em conjunto com os policiais espanhóis, conseguiu desvendar a trama na madrugada desta terça-feira.

Os músicos, que fazem uma mistura de pós-punk com música eletrônica, tinham chegado ao México no dia 3 de outubro e participaram de um festival de música eletrônica e cinema em 5 de outubro. O plano inicial era viajar até San Francisco, nos Estados Unidos, para outra apresentação.

Mas, agora a banda parece ter suspendido a turnê e deve voltar à Espanha. Até o momento, ninguém foi preso.

ESTRATÉGIAS

Os mexicanos desenvolveram algumas estratégias para lidar com o falso sequestro, um tipo de extorsão cada vez mais comum no país.

"Quando minha filha adolescente sai para ir ao cinema sempre lembro a ela para não emprestar o celular a nenhum desconhecido. Eles às vezes pedem alegando alguma emergência. É aí que eles guardam o número dos familiares e, enquanto a pessoa está dentro do cinema, com o celular desligado, eles ligam para dizer que a pessoa foi sequestrada", disse à BBC um pai de família mexicano que não se identificou.

Ele afirma que muitos outros pais dão este mesmo conselho aos filhos desde que a onda de falsos sequestros começou no país.

Em um falso sequestro, os criminosos ligam para uma pessoa dizendo que estão com um familiar da vítima e exigindo uma quantia relativamente baixa, que pode ser levantada nas poucas horas em que a pessoa supostamente sequestrada não pode ser localizada.

Tudo se baseia na sugestão e em nenhum momento ocorre violência física.

Como no Brasil, os falsos sequestradores do México também fazem telefonemas aleatórios para ver se alguém cai no golpe. E já foram feitas denúncias de que estas chamadas são feitas de dentro de prisões mexicanas.

Não existem estatísticas para este tipo de crime no país. Mas o governo, sim, coleta dados sobre sequestros relâmpagos e sequestros comuns: 105 mil destes ocorreram apenas no ano passado, segundo revelou há poucos dias o Instituto Nacional de Estatística e Geografia do México, o Inegi.

Com estes números, o México é o primeiro pais do mundo em número de sequestros, mesmo sem levar em conta os casos que não são denunciados.

Algumas organizações, como o Conselho Cidadão de Segurança Pública, afirmam que o número total de sequestros pode chegar ao dobro do número oficial.

CONSEQUÊNCIAS

A divulgação do sequestro da banda Delorean nas redes sociais já teve consequências: o DJ espanhol John Talabot anunciou o cancelamento de sua turnê no México por motivos de segurança e se solidarizou com os músicos da banda indie.

Talabot faria uma apresentação no próximo domingo na Cidade do México e depois viajaria por várias cidades mexicanas.

Pouco depois do anúncio da liberação do grupo Delorean de seu falso sequestro (também chamado de "sequestro virtual" no México), o Ministério do Interior mexicano informou o desmantelamento de uma gangue de sequestradores no Estado de Guerrero, da qual 13 integrantes eram policiais.


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