Folha de S. Paulo


03/12/2003 - 11h32

Plano alternativo de paz para Israel reaviva esperança, diz Oz

BIANCA KESTENBAUM BANAI
especial para a Folha Online, em Tel Aviv

Na segunda-feira (1º), israelenses e palestinos lançaram uma iniciativa para tentar pôr fim à crise israelo-palestina, retomada a partir da segunda Intifada --revolta palestina contra a ocupação israelense, iniciada em setembro de 2000. O plano não conta com o apoio formal do governo de Israel nem da Autoridade Nacional Palestina (ANP).

O plano de paz alternativo, elaborado por uma comissão mista de israelenses e palestinos, foi negociado durante os últimos dois anos. Ontem Israel criticou uma oferta dos Estados Unidos de fazer uma reunião com a comitiva do plano alternativo, chamado Acordo de Genebra. Em uma rara advertência ao seu maior aliado no mundo, o vice-primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, disse que tal iniciativa seria "um erro".

O texto do acordo alternativo, que prevê concessões de ambas as partes, conta com o apoio de líderes internacionais, artistas e intelectuais, entre eles o do escritor israelense Amos Oz, 64.

Folha Imagem/1997
Amos Oz, escritor israelense
Em entrevista exclusiva à Folha Online, Oz disse que após o lançamento do acordo em Genebra (Suíça) surgiu um clima de esperança que pode ser muito bom para o caminho da paz. "Voltamos de Genebra com mais esperança", disse.

Para Oz, que já teve diversos livros traduzidos para o português, entre outros, "O Mesmo Mar" (2001) e "A Caixa Preta" (1993), o acordo representa uma expectativa para os dois povos. "Chegamos a uma situação de total desespero. E agora me parece que conseguimos criar esperança."

Leia íntegra da entrevista concedida à Folha Online por telefone, de sua residência em Arad, cidade desértica do Neguev, no sul de Israel:

Folha Online - Qual a sua impressão após a apresentação do Acordo de Genebra?

Amos Oz - Agora há mais esperança do que havia antes.

Folha Online - Surgiram muitas críticas em relação à cerimônia de lançamento do acordo. Algumas pessoas disseram que foi uma festa, um espetáculo muito bonito, mas que não terá resultados. Qual sua opinião?

Oz - Já há resultados. As pessoas que estavam totalmente desesperadas agora já têm esperança. E a esperança é uma coisa importante pois pode parar o terror. Pode ser que ontem ou anteontem um rapaz palestino de um campo de refugiados vestiu um colete com explosivos e se preparou para ir em direção a um restaurante e se explodir. Mas ao escutar sobre o encontro em Genebra ele pensou que talvez haja esperança e tirou o cinto de explosivos. Se algo assim aconteceu já valeu a pena.

Folha Online - O senhor pensa que este acordo de paz alternativo pode ser uma ameaça ao governo do premiê Ariel Sharon, que até hoje, após mais de três anos no poder, não conseguiu um acordo de paz com os palestinos?

Oz - Eu vou ficar muito feliz se o governo Sharon fizer um outro esquema de paz. Eu vou saudá-lo. Eu só espero que eles (os governantes) façam algo.

Folha Online - Pela primeira vez, um governo israelense critica o governo americano. Sharon fez comentários negativos sobre o anunciado encontro do secretario de Estado dos EUA, Collin Powel, e os promotores do Acordo de Genebra, o israelense Yossi Beilin e o palestino Iasser Abbo Rabbed. Que tipo de reação isto pode gerar?

Oz - Israel é um pais livre e democrático. É permitido encontrar-se com Powel e pode-se ter raiva por isto.

Folha Online - O senhor acha que a partir dessa situação --o encontro de lideranças internacionais com a comitiva do acordo alternativo de paz-- poderá se iniciar algo novo no governo Sharon ou pelo menos abrir espaço para um novo esquema entre israelenses e palestinos?

Oz - Eu acho que a partir deste esquema (de Genebra) já se criou uma esperança muito forte para os israelenses e palestinos. E esperança é um elemento positivo para o desespero, que é um elemento negativo.

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